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As minhas memórias escritas vêm da adolescência.
Então a vida era diferente. Não existiam as solicitações que hoje dispersam os jovens. Mas havia a biblioteca itinerante da Gulbenkian!
Lembro-me da alegria que tínhamos quando a ouvíamos buzinar, à chegada.
Lembro-me do cheiro que saía dos livros quando a carrinha era aberta.
Lembro-me de os manusear gulosamente e de os levar para casa apressada
Nessa época comecei a escrever e, até hoje, a escrita tem sido uma companhia constante e reconfortante.
Predomina a poesia porque ela me permite expressar, numa linguagem condensada, aquilo que me vai por dentro.
Gosto também de brincar com a palavra escrita e de a agrupar e manobrar num jogo, ao mesmo tempo lúdico e estético.
O poder da palavra poética reside na sua ambiguidade. Permite a partilha e a ocultação. Ela dá aos outros, a possibilidade de se inscreverem, na viagem fantástica, ao interior do autor, de si mesmos, ou de mundos imaginados.