Do famoso blogue «Ana de Amsterdam» (cujo nome remete para a famosa canção de Chico Buarque), a autora juntamente com o escritor e investigador João Pedro George fizeram uma seleção dos melhores e mais memoráveis textos. Um conjunto coeso que finalmente revela a poderosa e abrasiva voz literária de Ana Cássia Rebelo para lá da blogosfera. O diário íntimo (e ferozmente honesto) de uma mulher dos nossos tempos.

Prefácio de João Pedro George
«Ana interpreta a condição de muitas mulheres que coabitam com a frustração, asfixiadas pela casa, pelos filhos, pelo trabalho, pela falta de apoio. Noutras palavras: pelos preceitos do repugnante machismo, que impede as mulheres de admitirem publicamente que os filhos lhes esmagam as ambições, as capacidades, as forças realizadoras, e as impossibilitam de desenvolverem plenamente as múltiplas facetas da sua personalidade; pela práxis estabelecida, que diz que a mulher deve ser recatada, deve sujeitar-se ao decoro e circunscrever-se à lógica do coração e dos sentimentos; do pudor tradicional, que castiga as mulheres que confessam gozo sexual, indolência, frigidez, tristeza crónica, rotulando-as de grosseiras, indecentes, deselegantes, umas galdérias (se alguns destes textos chocarem a moralidade convencional, diga-se, desde já, bendita seja), e considerando-as inquietantes e irresponsáveis, sem textura moral, um foco de instabilidade e uma ameaça à educação dos jovens.»

é um livro que está na whishlist d@ afilhad@ natal deste ano! acho que vais gostar! O livro é fantástico....

E tão bem recomendado que ele vai...! Ho Ho Ho! Festas Felizes!

Sou a afilhada mais sortuda de sempre :) É um livro que me vai saber muito bem ler por estes dias.

Obrigada madrinha e tem um excelente Natal.

De 2006 a 2014 vamos lendo as entradas que a Ana Cássia de Rebelo escrevia no seu diário. Mas, ao invés daqueles diários onde os nossos pensamentos e atos mais íntimos eram fechados à chave, estas entradas foram escritas num blogue público. Nada fica por contar, nestes 8 anos: a frigidez, os inúmeros psiquiatras, a lista de anti-depressivos, as fome nocturnas, as escapadelas diurnas com diversos amantes, os momentos com os três filhos e com os pais, o divórcio, as férias em Goa com a família de lá.

"É complicado ser-se de toda a parte e não se ser de sítio nenhum. É difícil ter tantas raízes. Umas compridas, que atravessam países, mares fronteiras para fundarem lá longe, perto do Rio Zuari, onde há quintais com cobras e a claridade do crepúsculo tem a cor da clara do ovo. Outras que se estendem além-Tejo, por serranias de giestas habitadas por zorras e homens que matam a sede bebendo por cochos de cortiça. Outras raízes que latejam memórias antigas, familiares, cheias de bichos: hipopótamos, jacarés, morcegos, leões, macacos, lagartas leitosas que vivem sob a minha pele. Outras ainda, imaginárias, que teço, que quero ter, que só por incompetência do destino não são minhas. São raízes que acrescento às reais, que atravessam o Atlântico para se apaziguarem num lugar onde todos, ou quase todos, são como eu, mestiços."

Ana escreve muito bem e as descrições são belíssimas, sobretudo as que desvendam os momentos passados na India. Não são menos belas as descrições da tristeza eterna e da depressão crónica que a habitam mas, a certa altura, achei que a autora olhava para os outros (aqueles que se cruzam com ela nos transportes públicos ou no quotidiano) com uma certa altivez. Há ali um egoísmo que se me tornou um bocado insuportável. E essa falta de empatia que senti por ela (de certa forma, injustificável da minha parte), fez-me gostar menos do livro.

Se calhar, não devia ter lido o livro de rajada, mas antes dar tempo a cada entrada para assentar.

Vai iniciar o ano num passeio em modo bookring:

- Pequete
- Maria-Nunes
- cometa54

Livro recebido.
Muito obrigada Irus.
Já me fartei de rir porque pensei que era de uma escritora brasileira - pois até perguntei se tinha que ver com o Chico, ai ai.
Comecei a ler há bocado e já afinei melhor as suposições.
:)

Depois de se ter extraviado, algures num labirinto de livros, eis que a Ana de Amsterdam submerge de novo (e em novo) para continuar a viagem, desta vez em direção à casa da vizinha do lado.

Nunca li o blogue Ana de Amsterdam, mas ouvi falar deste livro, primeiro no fórum do BookCrossing, depois no Goodreads e por fim, uma entrevista com a autora num jornal, fizeram-me ficar com vontade de o ler. Não é um livro “feliz”, mas não me arrependi.

Os relatos que faz da sua intimidade são incómodos, alguns comentários acerca de terceiros são mauzinhos, a roçar a arrogância, e as suas fantasias suicidas são muito perturbadoras, mas a forma como expressa tudo isto e nos vai dando conta da depressão crónica de que sofre, é impressionante e a escrita muito boa.

Não sei o que fazer com a tristeza quando ela toma conta de mim. Não a convido. Não sei porque vem, derramando tentáculos de dor. Sinto-a fisicamente, como se fosse um bicho, um parasita. Petrifica-me. Torno-me um cristal baço. Uma mancha de bolor.

Para além das entradas diarísticas, o livro inclui também alguns mini-contos, todos sobre mulheres de que gostei muito.

Muito obrigada por esta partilha, o livro vai seguir viagem assim que receber o OK da Maria-Nunes.

Afinal a Maria já não quer ler o livro, por isso ele afinal vai seguir para a cometa :D

Bom, afinal a cometa já leu, por isso acho que um destes dias vou ter desculpa para convidar a vizinha para um café e poder devolver-lhe o livro :)

Regressado a casa, depois de ainda ter dado uma voltinha por outra vizinha, extra-BC