Bichos

by Miguel Torga | Children's Books |
ISBN: 972747845x Global Overview for this book
Registered by Cokas of Almada, Setúbal Portugal on 7/26/2019
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Journal Entry 1 by Cokas from Almada, Setúbal Portugal on Friday, July 26, 2019

Disponível na Rede Municipal de Bibliotecas de Almada, com a cota: 821.134.3-3 TOR.
Este livro foi escolhido num blind date literário, apenas por um parágrafo colado ao seu embrulho.

«Querido leitor: São horas de te receber no portaló da minha pequena Arca de Noé. Tens sido de uma constância tão espontânea e tão pura a visitá-la, que é preciso que me liberte do medo de parecer ufano da obra, e venha delicadamente cumprimentar-me uma vez ao menos. Não se pagam gentilezas com descortesias, e eu sou instintivamente grato e correcto (…)»
Miguel Torga


«Miguel Torga nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes. Faleceu a 17 de Janeiro de 1995. De seu verdadeiro nome Adolfo Correia da Rocha, Miguel Torga é o pseudónimo literário pelo qual ficou conhecido. Formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, colaborou na revista Presença e dirigiu as revistas Sinale Manifesto. Em 1976 foi distinguido com o Grande Prémio Internacional de Poesia das Bienais Internacionais de Knokke-Heist, em 1980 com o Prémio Morgado de Mateus, em 1981 com o Prémio Montaigne (Alemanha), em 1989 com o Prémio Camões e em 1992 com os prémios Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e Figura do Ano da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira.

A sua obra encontra-se traduzida em diversas línguas. Considerado um dos mais importantes autores portugueses contemporâneos, Miguel Torga foi durante muitos anos o editor dos seus próprios livros.»

Ficha Técnica
Título: Grandes Livros - "Bichos" de Miguel Torga
Tipo: Documentário
Produção: Companhia de Ideias
Ano: 2010


Journal Entry 2 by Cokas at Almada, Setúbal Portugal on Thursday, August 15, 2019

Num magnífico prefácio, em tom coloquial, Miguel Torga acena-nos e apresenta a nossa «pequena Arca de Noé». Nossa, porque nos informa de que somos, também nós, leitores, donos deste livro; e porque, juntos, vamos seguir viagem na «barcaça onde a nossa condição se encontrou». E que viagem!

O livro está dividido em 14 contos, cada qual com um nome de animal ou, mais raro, de pessoa. Em cada um se espelham características humanas que nos levam a refletir sobre a nossa condição e fragilidades.

Quando revelei que estava a ler este livro, várias pessoas me confessaram qual o seu conto preferido e me instigaram a lê-lo. Foi assim que comecei esta viagem pelo conto preferido de meu pai – Vicente -, curiosamente o último. E foi com o pensamento em amigos que li outros contos, como o do sapo Bambo ou o do touro Miura. No fundo, cada pessoa identifica-se com um animal, as suas idiossincrasias e as dificuldades que se lhe atravessam o caminho. Ou, ainda, com a sua força, coragem e grandeza.

O meu conto preferido é o do galo Tenório (pág. 57), dotado de uma bela figura de «penas doiradas que lhe almofadavam o peito» e «pernas lisas e musculadas»; e de uma boa voz, que deixava um «desenho fino e agudo (…) nos ouvidos maravilhados» e que quase ressuscitava os mortos quando, «à meia-noite, (…) por simples exibição», também cantava. Um galo extravagante, seguro de si, viril, dono e senhor da sua capoeira. O galo Tenório está aqui para nos lembrar de que todos, mais cedo ou mais tarde, depois de depenados, seremos alimento de outros bichos; que ninguém, por mais dons ou maior posição social, cá fica; que do pó viemos e ao pó retornaremos; que esta vida é um breve instante.

Também gostei muito d’O Senhor Nicolau (pág. 105), que toda a vida alfinetou, com arte e consideração, os mais variados insetos e outros bicharocos e cujo último suspiro é dado quando, ele próprio, já delirante, é alfinetado segundo uma «má técnica». O Senhor Nicolau vem recordar-nos de que todo o Homem deveria ter uma caixa onde repousar eternamente, com honraria. E que os momentos - instantes ou mesmo horas, dias, meses - que antecedem a morte deveriam trazer dignidade ao sujeito e dar sentido à vida que se esfuma. Este conto fez-me recordar todos aqueles que foram massacrados na II Guerra Mundial e cujos cadáveres foram lançados para valas comuns.

O pardal Ladino (pág.77) também me cantou ao ouvido! Já matulão, nada o fazia saltar do ninho. Um receio comum a muitos jovens (e não só!). O medo do desconhecido. O receio de não ser capaz de abrir asas e voar. Mas a vida só se experiencia na sua plenitude fora das zonas de conforto de cada um porque «voar [é] realmente agradável! E que bonito o mundo, em baixo! Tudo a sorrir, claro e acolhedor…» Ladino também nos relembra de que a primeira vez que pisamos terra é sempre maravilhoso. Seja um pata de pardal a pousar sobre relva húmida, seja um pezinho de bebé a tocar grãos de areia na praia, seja uma bota espacial a marcar o chão inóspito da Lua. Talvez, também por isso, há quem beije o chão ao sair de um avião ou ao entrar num campo de futebol.

*****
«Assim acabava de velhice, podre por dentro, a meter fastio a toda a gente.» (pág. 20, NERO)

«Abriu o nariz e encheu o peito de ar ou de luar (…) porque a noite era uma mistura de brisa e claridade.» (pág. 25, MAGO)

«Voltara miseravelmente… E à procura de quê? Da paz podre dum conforto castrador.» (pág. 31, MAGO)

«O futuro para um lado, vago, distante, irreal; o presente para o outro, urgente, positivo.» (pág. 38, MADALENA)

«As dores pareciam cadelas a mordê-la.» (pág. 39, MADALENA)

«A gente também vive de boas palavras. » (pág. 43, MORGADO)

«A gente entende pouco do semelhante. Cada um de nós é um enigma, que a maior parte das vezes fica por decifrar.» (pág. 53, BAMBO)

«Ricos e pobres nem no brilho do sol reparavam.» (pág. 54, BAMBO)

«A vida, como um fruto, estava cheia de doçura.» (pág. 54, BAMBO)

«A mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma.» (pág. 69, JESUS)

«Animada pelo sopro da vida, a matéria precisa do calor de um ventre.» (pág. 73, CEGA-REGA)

«Desde que haja coragem dentro de nós, tudo se consegue.» (pág. 73, CEGA-REGA)

«Havia penugem de esperança em cada ninho.» (pág. 74, CEGA-REGA)

«Que as folhas do calendário, como as das árvores, fossem caindo.» (pág. 75, CEGA-REGA)

«Terra! Pisava-a pela primeira vez.» (pág. 80, LADINO)

«A alma enchera-se-lhe de silêncio em vinte anos de Marão.» (pág. 87, RAMIRO)

«Continua distante, absorto, de beiços cosidos.» (pág. 88, RAMIRO)

«Cuco do Minho, cuco da Beira, quantos anos me dás de solteira?» (pág. 93, FARRUSCO)

«Entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.» (pág. 104, MIURA)


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