Do outro lado do Atlântico para as minhas mãos. Um agradecimento especial ao Avenalve com quem fiz uma troca. Estou a lê-lo mas ainda não tenho opinião.

Do primeiro capítulo:

Quando eu sair daqui, vamos nos casar na fazenda da minha feliz infância, lá na raiz da serra. Você vai usar o vestido e o véu da minha mãe, e não falo assim por estar sentimental, não é por causa da morfina. Você vai dispor dos rendados, dos cristais, da baixela, dasjoias e do nome da minha família. Vai dar ordens aos criados, vai montar no cavalo da minha antiga mulher. E se na fazenda ainda não houver luz elétrica,
providenciarei um gerador para você ver televisão. Vai ter também ar condicionado em todos os aposentos da sede, porque na baixada hoje em dia faz muito calor. Não sei se foi sempre assim, se meus antepassados suavam debaixo de tanta roupa.

Acabei ontem.
Um velho centenário está numa cama de hospital à espera que venha a senhora de foice e lhe arrume a existência física. Enquanto isso trava um longo monólogo em que revê a sua vida. Os episódios sucedem-se mas nunca se repetem na boca deste homem vetusto que vai sempre acrescentando um ponto à sua própria história. Em pano de fundo a História do Brasil. Sempre presentes o amor por Matilde, o pessimismo perante a sociedade brasileira, o preconceito racial e a decadência de uma elite que acaba a morar por favor nos fundos de uma Igreja Evangélica.
Não tão bom como Budapeste, este é um livro que vale a pena pela linguagem cuidada e escorreita e uma forma de narrar ímpar que nos vai prendendo cada vez mais e agarrando aos 'Eulálios' que habitam em Leite Derramado