O Deus das Moscas
Registered by darjeeling on 6/30/2005
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"William Golding (1911-1993), um dos maiores escritores do século, ganhou o prémio Nobel em 1983 e este é um dos seus grandes livros, duas vezes adaptado ao cinema, a última das quais bastante recentemente. Nesta obra Golding conta a história de um grupo de crianças de um colégio inglês que naufraga, dando à costa numa ilha deserta. Contra este pano de fundo mais ou menos idílico, a lembrar obras como "Dois Anos de Férias" de Júlio Verne, Golding vai conduzindo o leitor pelo verdadeiro tema da obra: a maldade e a estupidez humana, a selvajaria brutal que tudo subjuga ao prazer imediato. Quando foi publicado, em 1954, o mundo ocidental acabava de sair dos horrores da segunda guerra mundial; mas hoje a obra continua infelizmente actual porque a estupidez humana é uma das constantes que ao que parece veio infelizmente para ficar.
Do ponto de vista formal, estamos perante uma escrita depurada que parece esconder na sua impassível objectividade narrativa um grito surdo que passa a habitar-nos para sempre. Se há romance contagiante, é este. A sensatez do herói do romance, que procura convencer os seus companheiros a não se deixarem iludir pelos apelos constantes à brutal selvajaria é quase dolorosa. Estamos perante um grande livro, que merece ser lido e discutido e do qual é imperativo extrair uma lição.
Gostava de destacar um aspecto crucial. Na sua tentativa de convencer os seus companheiros a agir de forma sensata e racional, o protagonista vê-se obrigado a instituir rituais — menosprezados e espezinhados por todos. E este é um aspecto que parece captar uma característica importante da natureza humana e que muitas vezes não é suficientemente tida em conta — nomeadamente em discussões relacionadas com a filosofia da religião. Os seres humanos precisam de rituais, de símbolos, de histórias para conseguirem ser sensatos; precisam da iconografia, do gesto ritual, do preceito religioso; e precisam, sobretudo de dramatizar o bem e o mal morais. Essa dramatização culmina, claro, com a invenção dos deuses das várias religiões, guardiães dramáticos da acção moralmente correcta. O problema — problema detectado por Golding e exposto nesta obra — é que a dramatização corre geralmente mal; perde-se o seu sentido; e em seu lugar fica apenas um ritual vazio e uma iconografia despropositada que acaba por ser colocada ao serviço dos mais básicos e selvagens instintos irracionais humanos.
Termino com uma nota de cautela. Este livro não é para espíritos fracos. O seu desenlace trágico, pinta em tons fortes os abismos morais a que a miséria humana pode conduzir. Mas, como grande escritor que é, Golding faz mais do que impressionar o nosso sentido moral: impressiona o nosso sentido estético com um poder tal que o convívio diário com esta obra nos marca para sempre."
Desidério Murcho
Do ponto de vista formal, estamos perante uma escrita depurada que parece esconder na sua impassível objectividade narrativa um grito surdo que passa a habitar-nos para sempre. Se há romance contagiante, é este. A sensatez do herói do romance, que procura convencer os seus companheiros a não se deixarem iludir pelos apelos constantes à brutal selvajaria é quase dolorosa. Estamos perante um grande livro, que merece ser lido e discutido e do qual é imperativo extrair uma lição.
Gostava de destacar um aspecto crucial. Na sua tentativa de convencer os seus companheiros a agir de forma sensata e racional, o protagonista vê-se obrigado a instituir rituais — menosprezados e espezinhados por todos. E este é um aspecto que parece captar uma característica importante da natureza humana e que muitas vezes não é suficientemente tida em conta — nomeadamente em discussões relacionadas com a filosofia da religião. Os seres humanos precisam de rituais, de símbolos, de histórias para conseguirem ser sensatos; precisam da iconografia, do gesto ritual, do preceito religioso; e precisam, sobretudo de dramatizar o bem e o mal morais. Essa dramatização culmina, claro, com a invenção dos deuses das várias religiões, guardiães dramáticos da acção moralmente correcta. O problema — problema detectado por Golding e exposto nesta obra — é que a dramatização corre geralmente mal; perde-se o seu sentido; e em seu lugar fica apenas um ritual vazio e uma iconografia despropositada que acaba por ser colocada ao serviço dos mais básicos e selvagens instintos irracionais humanos.
Termino com uma nota de cautela. Este livro não é para espíritos fracos. O seu desenlace trágico, pinta em tons fortes os abismos morais a que a miséria humana pode conduzir. Mas, como grande escritor que é, Golding faz mais do que impressionar o nosso sentido moral: impressiona o nosso sentido estético com um poder tal que o convívio diário com esta obra nos marca para sempre."
Desidério Murcho
seguiu hoje para Santo André, Barreiro, ao encontro da NeferSand
Depois de o livro ter passado por momentos menos bons (=S), eis que acabo de o ler!
Soberbo! Uma escrita incomodativa que nos guia e envolve na natureza humana, ou o seu desprovimento. Nú e crú, acompanhando um grupo de rapazes que se perde numa ilha. As relações hierárquicas, a procura da razão, os símbolos, a devoção, e finalmente o poder! Um livro para ser relembrado de tempos a tempos, para que evitemos que o que nos rodeia se transforme numa ilha isolada, desprovida de humanidade.
Até que ponto nos podemos transformar apenas em animais com instrumentos?
Volta para o dono em principio ainda esta semana.
Obrigada darjeeling!! =)
Soberbo! Uma escrita incomodativa que nos guia e envolve na natureza humana, ou o seu desprovimento. Nú e crú, acompanhando um grupo de rapazes que se perde numa ilha. As relações hierárquicas, a procura da razão, os símbolos, a devoção, e finalmente o poder! Um livro para ser relembrado de tempos a tempos, para que evitemos que o que nos rodeia se transforme numa ilha isolada, desprovida de humanidade.
Até que ponto nos podemos transformar apenas em animais com instrumentos?
Volta para o dono em principio ainda esta semana.
Obrigada darjeeling!! =)
Este livro teve que esperar que ambos viessemos de férias. =P
Segue amanhã para o dono sem falta. Obrigada por tudo darjeeling. =)
Segue amanhã para o dono sem falta. Obrigada por tudo darjeeling. =)