«Se encontrar este livro, por favor leia-o. Queria que alguém conhecesse a história dos Goldman de Baltimore.»

Até ao dia do Drama, existiam dois ramos da família Goldman: os Goldman de Baltimore e os Goldman de Montclair.O ramo de Baltimore, próspero e bafejado pela sorte, mora numa luxuosa mansão. Encarna a imagem da elite americana, abastada e influente, que vive em bairros exclusivos, passa férias nos Hamptons e frequenta colégios privados. Já os Goldman de Montclair são uma típica família de classe média e vivem numa casa banal em Nova Jérsia. É a esta família modesta que pertence Marcus Goldman, autor do romance "A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert". Mas era à família feliz e privilegiada de Baltimore que Marcus secretamente desejava pertencer. Mas tudo isto se transforma com o Drama.Oito anos depois do dia que tudo mudou, é a história da sua família que Marcus Goldman decide investigar. Movido pelas memórias felizes dos tempos áureos de Baltimore, procura descobrir o que se passou no dia do Drama, que mudaria para sempre o destino da família. O que aconteceu realmente aos Goldman de Baltimore?

Aproveitei a presença de Joël Dicker na Feira do Livro de Lisboa, em maio de 2016, e comprei O Livro dos Baltimore. Conversámos um pouco acerca do livro A Verdade sobre o Caso Harry Quebert e o quanto tinha apreciado as analogias entre a escrita e o boxe; no final, trouxe um autógrafo amoroso com uma boneca de luvas em posição de guarda, sorrindo para um saco de boxe :)


Escrito num estilo muito fluido e recheado de humor, O Livro dos Baltimore conta a história da família de Marcus e do seu crescimento. Inicialmente, uma criança que apenas quer brincar com os primos, que adora, e estar em redor dos tios, por quem nutre uma admiração profunda. Mas vamos acompanhá-lo durante o liceu, na universidade e já adulto, escritor de sucesso. Atravessamos com ele estas fases e, ainda que percebamos que muito vai passando despercebido aos seus olhos de criança e de adolescente, as reviravoltas com que o autor nos vai fintando são interessantes.

A frase que pode, mais facilmente, definir a mensagem deste livro é «Os dramas são inevitáveis. No fundo, não têm muita importância. O que conta é como os ultrapassamos.» (pág. 541).

De qualquer modo, fala sobre a irmandade entre primos da mesma idade, que crescem juntos; fala das comparações relativas aos bens materiais ou às atenções que alguns têm em detrimento de outros; fala do amor de mãe, que prefere ver o seu filho feliz longe de si do que triste por perto; fala dos segredos que todas as famílias guardam; fala da imaginação demasiado fértil que temos e dos enganos que cometemos; fala das crises de meia-idade; fala de passos dados em falso e das suas consequências nefastas; fala da ganância que ensurdece; fala do orgulho e do perdão.

Foi uma leitura muito agradável e rápida, com os capítulos bem organizados, o que permitiu saltar no tempo sem desnorteios. Foram encontradas pouquíssimas gralhas.

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«Sonha, e sonha em grande! Só os maiores sonhos sobrevivem.» (pág. 288)

«A celebridade não é mais do que um fato (…). Um fato que se torna demasiado pequeno, demasiado usado ou que te será roubado. O que conta, antes de mais, é aquilo que és quando estás completamente nu.» (pág. 402)

«Talvez seja isso a felicidade: estar em paz com o que somos.» (pág. 409)

«O castelo dos Baltimore desmoronava-se; a casa dos Montclair, pequena mas sólida, mantinha-se orgulhosamente de pé.» (pág. 435)

«A presença de terceiros afasta a melancolia.» (pág. 454)

«Nos livros, aqueles que já não existem reencontram-se e unem-se.» (pág. 519)

«Cada um é responsável pela sua vida. Somos responsáveis por aquilo em que nos tornamos.» (pág. 521)

«As nossas vidas não têm sentido se não formos capazes de cumprir estes três destinos: amar, ser amado e saber perdoar.» (pág. 542)