Rio Noir

by Tony Bellotto (Org. ) | Mystery & Thrillers |
ISBN: 8577345149 Global Overview for this book
Registered by avenalve of São Paulo, São Paulo Brazil on 4/8/2015
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Journal Entry 1 by avenalve from São Paulo, São Paulo Brazil on Wednesday, April 8, 2015
Indo a uma livraria em busca de um guia de viagem, dei com este livro, uma coletânea de contos policiais de 14 autores, organizados por um deles, Tony Bellotto, compositor e guitarrista da banda "Titãs" e autor de uma série de livros policiais com o personagem Remo Bellini.

Journal Entry 2 by avenalve at São Paulo, São Paulo Brazil on Monday, April 13, 2015

Released 9 yrs ago (4/9/2015 UTC) at São Paulo, São Paulo Brazil

CONTROLLED RELEASE NOTES:

Enviado à Cokas. Mais um para acrescentar à bibliografia do curso de literatura policial.

Journal Entry 3 by Cokas at Almada, Setúbal Portugal on Tuesday, May 5, 2015

Que boa surpresa! Tantos autores brasileiros para descobrir num único livro maravilhoso :)
Oferta muito simpática (e inesperada!) de Avenalve.

Vai ser a minha próxima leitura. Na verdade, o primeiro conto, do meu adorado Garcia-Roza, já está! :)



Journal Entry 4 by Cokas at Almada, Setúbal Portugal on Sunday, April 3, 2016

Rio Noir, editado pelo roqueiro da banda Titãs, Tony Bellotto, é um livro que condensa 14 contribuições de escritores contemporâneos, ainda que de idades muito diferentes. Para uma portuguesa, foi um pouco difícil entrar na frequência de vibração da linguagem das personagens, principalmente nos textos cuja história se passava nos morros. Também foi necessário ultrapassar a barreira da violência explícita, tantas vezes gratuita, pois os autores, tal como acontece no Rio Noir real, não pouparam vidas.

No geral, gostei muito deste livro e só lamento não haver nenhuma compilação de contos do mesmo género, por escritores portugueses da atualidade.

Muito obrigada, Avenalve, por esta oportunidade única!


1. O Butim, Luiz Alfredo Garcia-Roza
Rato, cuja maior arma é a capacidade de se fazer esfumar quando necessário, vive nas sombras de um Rio de Janeiro luminoso, tendo como sócio Japa, o seu advogado, com quem divide os lucros. Sendo low profile, é nessa obscuridade que passa despercebido pela polícia... até um dia! Determinado a não ficar dependente da extorsão de nenhum "policial" - nem de acabar morto num beco -, Rato decide mudar-se da Lapa para Copacabana. É aí que conhece Rita. Conseguirá Rato manter-se em segurança e fazer florescer novamente o seu negócio? Terá Rita algum papel importante neste conto ou não passará de mais uma mulher que trabalha para Rato?

«Tinha dificuldade de saber como expressar seus sentimentos, como se houvesse para as classes privilegiadas catálogos de sentimentos, um para cada situação, e ela não tivesse referências pessoais ou literárias para orientá-la nesses momentos. Então não sofria, por vergonha de sofrer errado.» (31)

2. O Retorno, MV Bill
Bolha cresceu e fez toda a sua "escola" na Cidade de Deus, cujo tráfico domina até ao dia em que é trocada a equipa policial responsável pela ronda da favela e Bolha é apanhado desprevenido no meio de um intenso tiroteio, vendo-se a braços não apenas com o salvar da sua pele mas também com a necessidade de tirar o deputado Saci daquele local. Como será que Bolha descalçará este volte face? Tudo dependerá da sua sagacidade.

«Quando alguém diz "aconteça o que acontecer" é porque com certeza vai acontecer alguma coisa. Quase sempre uma coisa ruim.» (43)

3. Fim de Semana em São Conrado, Luiz Eduardo Soares
Ao longo deste conto, que se inicia com tiros ensurdecedores que trespassam um condomínio que vive paredes-meias com uma favela, Otto e o seu parceiro Harley vão investigar a razão por detrás de tal incidente, mesmo não tendo jurisdição sobre o mesmo. Otto e Harley são polícias da velha guarda, em cujo livro de conduta não constam informadores nem luvas. Pautam o seu trabalho pelo dever e pela honra, que deviam fazer todos os que fizeram juramento de bandeira. Conseguiram desvendar o mistério? Estará a resposta à frente dos seus olhos ou bem escondido?

«Deitado de bruços na maca, rosto enfiado no buraco anatómico, dorso espetado por vinte e quatro agulhas, sente-se um animal abatido, marinado para o churrasco.» (54)

4. RJ-171, Guilherme Fiuza
Um conto bem humorado, com várias inflexões súbitas, onde não podiam faltar o chefe Zéu, o seu chefe de segurança Robocop, os seus soldados de guerra e Roma, um soldado que tenta quebrar a solda e destacar-se do grupo por conta própria. E, claro, a onda (pergunto-me se já passou) de pôr termo às favelas brasileiras. Mas também mulheres de homens bem relacionados com apetência para aventuras perigosas. Um conto sério com muita piada, que faz lembrar a célebre frase "É preciso que alguma coisa mude, para que tudo fique na mesma", do filme O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

«O crime sempre vai existir, e é melhor a gente conhecer a cara dele.» (103)

5. Táxi Argentino, Arthur Dapieve
A noite acaba e o dia começa, ambos mal quer para o polícia em fim de turno, quer para a loira em fim de vida, cujo corpo se encontra caído no morro do Cristo Redentor. Trata-se de um conto recheado de humor negro, a lembrar aquele humor francês, politicamente incorreto, capaz de nos fazer rir de preconceitos ou até mesmo da morte. E é impossível o leitor não ficar marcado pelo episódio da delegacia legal e rever a importância de se respeitar o próximo.

«O vento fica me sacaneando, abrindo buracos nas nuvens só nos lugares errados.» (110)

«O pessoal da perícia vive numa bolha de sangue, onde não chega Byoncé, Kelly Key, gostosa nenhuma. Minto. De vez em quando, eles acham jeitosa uma defuntinha fresca.» (114)

6. Ponto Cego, Victoria Saramago
Este conto destaca-se dos anteriores. Falta-lhe testosterona! Percebe-se que foi escrito por uma mulher e nada tem a ver com o facto da personagem principal ser feminina nem com as poucas asneiras. É mais subtil. Falta-lhe violência - na ação, na linguagem, na descrição da paisagem. Não desgostei mas depois de 5 contos que nos transportam para um universo de violência ao mais alto nível, este dedo encontrado num caixote de lixo sabe a pouco. Até porque o final é demasiado óbvio.

7. O Enigma da Vitrola, Arnaldo Bloch
Se há pessoas com as quais não sentimos empatia alguma, por que razão não poderia haver contos com os quais não dispara qualquer química? Pois, este é um desses casos. Não fui capaz de estabelecer nenhuma ligação com esta busca de resposta à pergunta de partida - O que veio antes, jacaré ou jacarepaguá? O texto é labiríntico, quase uma tentativa de estilo borgiano, com realidade ficcional a cruzar-se constantemente com delírios de personagens. Na verdade, há um momento em que tudo parece fazer sentido - início do capítulo 9, quando o narrador imagina todas as, e passo a citar, «considerações lógicas e racionalizações» em que os seus amigos (e leitores, acrescento eu) iriam entrar após o seu discurso. Na verdade, é o momento-chave para mim pois eu também coloquei todas aquelas questões ao longo do conto. Mas, depois, fiquei à espera de um click final que não aconteceu.

«Na espera, cresciam os ossos, as juntas, o crânio e o nariz.» (156)

8. O Enforcado, Adriana Lisboa
Mais um texto nitidamente escrito por uma mulher, numa linguagem feminina e com uma história bem batida. Um homem com um casamento arrefecido pelas rotinas diárias, regressa, por um mero acaso, a um local onde, um dia, foi aquilo que já não é - jovem e dono da sua liberdade. Imbuído desse perfume de passado, consulta uma cartomante por quem acaba por se apaixonar. O final terá também selo de mulher e arrumará com a personagem? Ou terá um rasgo de surpresa e dará a este adúltero uma segunda oportunidade?

«Nesta cidade, algumas coisas começaram a mudar com rapidez desleal, às vezes não acompanho.» (172)

«Nem sei dizer quando foi que me tornei tão cativo da rotina, mas juro que foi involuntário.» (173)

«De repente, está tudo errado. Plano bem concebido que fica na teoria.» (182)

«O zero é um número que não altera nenhuma adição. Na multiplicação, ele transforma tudo em si mesmo. Absorve os outros números.» (184)

9. Coroas Saradas, Tony Bellotto
O cartão de visita de Tigrão é a sua aparência física, corpo bem trabalhado, quer no asfalto, quer na areia, sempre sob o sol do Rio, ao longo do trajeto que liga o pontão do Leblon ao morro do Leme. Com esse corpo, apesar de já não ser um jovem, consegue conquistar as suas CSC. Até que, um dia, fica apanhado por uma mulher bem mais velha que lhe promete independência financeira. Conseguirá Tigrão resistir aos seus argumentos? Um conto fluido e bem humorado, com linguagem tipicamente masculina.

«Pernas grossas de boleiro, peitoral triangular de nadador, barriga gomada de marombeiro, fôlego de Anderson Silva e um bronze de fazer inveja ao Kelly Slater.» (191)

«Demorei um tempo pra decidir. No fundo eu já tinha decidido, mas a gente se engana e finge que ainda não decidiu o que sabe que já está decidido.» (197)

10. Canibal de Ipanema, Alexandre Fraga
Leopoldo é um coronel duplamente reformado - do Exército e do antropofagismo! Há anos que a sua vida é pacata mas, um dia, conhece Roberta que o aborda de uma forma muito persuasiva. Conseguirá o coronel resistir-lhe? Um conto curto. Como a vida.

«Deu ao cachorro o nome de Dólar. Queria que o bicho fosse forte, como era a moeda americana.» (211)

11. Tangerina Tango, Marcelo Ferroni
Humberto tem como função rececionar autores em visita, sendo destacado para todos aqueles em que é preciso saber falar inglês. Greg Nicholas é mais um desses escritores que vem promover mais um livro de auto-ajuda ao Brasil. Contudo, Greg desaparece subitamente, o que traz algum contentamento ao editor dado o aumento de vendas que é gerado quando a notícia surge na internet.

«Acreditava aliás em poucas coisas além de algum dinheiro no fim do mês e de um lugar decente para dormir, talvez de alguém ao meu lado e um pouco de felicidade.» (221)

«Como se o dono fosse louco, ou pagasse uma promessa. Nada mais explicaria tamanha falta de gosto.» (230)

«A própria forma como fez as perguntas me incitava a confessar qualquer coisa. Minhas mãos tremiam.» (233)

12. A Espera, Flávio Carneiro
André, detetive particular, recebe, no seu escritório, a visita de uma mulher que procura ajuda para encontrar um homem que a perseguia. Estou com o Gordo - não gosto de finais felizes. Preferia ter sido surpreendida. Ainda assim, um conto interessante e com ritmo.

«As marcas de outra época escritas nas ruas como um livro aberto a quem quisesse ler. Eu queria, eu gostava de ler a cidade, em especial o Centro, onde está tudo escrito.» (258)

«Elas são bonitas, jovens e pelas roupas devem ter dinheiro. Precisa de mais alguma coisa para rir à toa?» (261)

«Elas têm amantes. Estão felizes demais pra serem apenas bem-casadas.» (264)

13. A História de Georges Fullar, Raphael Montes
Um jovem aspirante a escritor, já com uns textos na gaveta, encontra, de súbito, o seu ídolo literário. Tornam-se amigos e, à sua volta, escreve-se uma história. Uma história que tem de ser contada ao mundo. Conto muito leve mas interessante.

«Literatura é como bife. (...) Você prefere comer um bife ou conversar sobre o bife? Comer um bife, respondi. O mesmo vale para a literatura, ele disse. Não tem a menor graça conversar sobre literatura.» (273)

14. O Lenhador, Luis Fernando Veríssimo
Um manuscrito de poesia acompanhado de duplo homicídio. Uma loira, para não variar. Nunca percebi se loira bonita é fetiche vulgar de escritor ou se estes as usam pelo preconceito da loira burra. Em todo o caso, este é um homicídio bem simples de resolver. Um conto pequeno que, em duas pinceladas, entretém e satisfaz o leitor; bem ao estilo de Luis Fernando Veríssimo.

«O morto chamava aos fins de tarde de "a hora das sombras compridas". (285)


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