A Sombra do Vento
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Numa manhã de 1945 um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona.
Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, "A Sombra do Vento" é sobretudo uma trágica história de amor cujo o eco se projecta através do tempo. Com uma grande força narrativa, o autor entrelaça tramas e enigmas ao modo de bonecas russas num inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, numa intriga que se mantém até à última página.
Li A Sombra do Vento aconselhada por meu pai, que devorou o livro em 2 dias. Antes de iniciar a leitura, apercebi-me que muitos conhecidos - mesmo os que não têm hábitos de leitura - tinham gostado. Talvez por isso, tenha criado grandes expetativas. E, talvez por isso também, o livro me tenha sabido a pouco. Ainda assim, gostei. E recomendo-o.
O livro está muito bem escrito, com um rendilhado de parágrafos que nos fazem oscilar entre o barroco e o gótico de uma Barcelona que se estende desde Barceloneta a Tibidabo e, no mapa do tempo, entre 1933 e 1966.
Gostei particularmente do estilo cativante da intriga, do elogio constante ao livro enquanto objeto de riqueza única e vida própria, do humor com que a personagem Fermín pontua todo o romance, da "matrioskidade" da história dentro da história.
Não apreciei o facto de ser um livro óbvio e demasiado óbvio e mesmo redundante (por exemplo, não havia qualquer necessidade de se contar a história das criptas quando o simples olhar do protagonista sobre as mesmas nos abre de imediato toda a verdade).
Mas valeu a pena ter conhecido este autor que começou por escrever estórias para crianças... o que pode explicar a obsessão de atar muito bem todas as pontas soltas e de dar ao leitor uma papinha tão mastigada ;)
A meio do livro, surgiu-me uma corioretinopatia serosa central, um género de descolamento da retina por acumulação de líquido sob esta, o que me dificultou bastante a leitura.
*****************
Ideias a reter:
«existimos enquanto alguém nos recorda» 186
«no momento em que paramos a pensar se gostamos de alguém, já deixamos de gostar dessa pessoa para sempre» 189
«não sentira nada, apenas o tédio das coisas mortas» 230
«Poucas coisas enganam mais que as recordações.» 237
«O destino costuna estar ao virar da esquina. (…) Mas o que não faz é visitas ao domicílio. É preciso ir atrás dele.» 241
«nada acontece por acaso (…) as coisas têm o seu plano secreto, embora nós não o entendamos. (…) Tudo faz parte de qualquer coisa que não conseguimos entender, mas que nos possui.» 255
«quem ama de verdade ama em silêncio, com atos e nunca com palavras.» 279
«roçavam-se em silêncio, sentiam-se na ausência.» 280
«A espera é o óxido da alma.» 331
«Os mortos nunca comparecem ao seu próprio enterro.» 370
«Não há segundas oportunidades, exceto para o remorso.» 377
«estava possuído por aquela doença da laboriosidade culpada e, embora respeitasse e até invejasse a ociosidade nos outros, fugia dela como da peste.» 379
«As recordações são piores que as balas.» 443
«O tempo passa tanto mais depressa quanto mais vazio está.» 447
«tinha chegado a imaginar-me como uma daquelas mulheres, com um filho nos braços (….). Depois lembrava-me da guerra e de que aqueles que a faziam também tinham sido crianças.» 448
«Não há acasos (…). Somos títeres da nossa inconsciência.» 456
«O mundo dos livros de alfarrabista é uma câmara de eco.» 458
«um livro é um espelho e (…) só podemos encontrar nele o que já temos dentro» 504
O livro está muito bem escrito, com um rendilhado de parágrafos que nos fazem oscilar entre o barroco e o gótico de uma Barcelona que se estende desde Barceloneta a Tibidabo e, no mapa do tempo, entre 1933 e 1966.
Gostei particularmente do estilo cativante da intriga, do elogio constante ao livro enquanto objeto de riqueza única e vida própria, do humor com que a personagem Fermín pontua todo o romance, da "matrioskidade" da história dentro da história.
Não apreciei o facto de ser um livro óbvio e demasiado óbvio e mesmo redundante (por exemplo, não havia qualquer necessidade de se contar a história das criptas quando o simples olhar do protagonista sobre as mesmas nos abre de imediato toda a verdade).
Mas valeu a pena ter conhecido este autor que começou por escrever estórias para crianças... o que pode explicar a obsessão de atar muito bem todas as pontas soltas e de dar ao leitor uma papinha tão mastigada ;)
A meio do livro, surgiu-me uma corioretinopatia serosa central, um género de descolamento da retina por acumulação de líquido sob esta, o que me dificultou bastante a leitura.
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Ideias a reter:
«existimos enquanto alguém nos recorda» 186
«no momento em que paramos a pensar se gostamos de alguém, já deixamos de gostar dessa pessoa para sempre» 189
«não sentira nada, apenas o tédio das coisas mortas» 230
«Poucas coisas enganam mais que as recordações.» 237
«O destino costuna estar ao virar da esquina. (…) Mas o que não faz é visitas ao domicílio. É preciso ir atrás dele.» 241
«nada acontece por acaso (…) as coisas têm o seu plano secreto, embora nós não o entendamos. (…) Tudo faz parte de qualquer coisa que não conseguimos entender, mas que nos possui.» 255
«quem ama de verdade ama em silêncio, com atos e nunca com palavras.» 279
«roçavam-se em silêncio, sentiam-se na ausência.» 280
«A espera é o óxido da alma.» 331
«Os mortos nunca comparecem ao seu próprio enterro.» 370
«Não há segundas oportunidades, exceto para o remorso.» 377
«estava possuído por aquela doença da laboriosidade culpada e, embora respeitasse e até invejasse a ociosidade nos outros, fugia dela como da peste.» 379
«As recordações são piores que as balas.» 443
«O tempo passa tanto mais depressa quanto mais vazio está.» 447
«tinha chegado a imaginar-me como uma daquelas mulheres, com um filho nos braços (….). Depois lembrava-me da guerra e de que aqueles que a faziam também tinham sido crianças.» 448
«Não há acasos (…). Somos títeres da nossa inconsciência.» 456
«O mundo dos livros de alfarrabista é uma câmara de eco.» 458
«um livro é um espelho e (…) só podemos encontrar nele o que já temos dentro» 504